Nesse exato momento tem lugar a Reunião Global de Serviços Gerais de Ets. Como em todos os anos, o presidente da mesa só abre a palavra depois de aparecer no placar, situado numa das extremidades do salão de conferências, o número exato de Ets de todo o planeta colhido no último censo.
Uma menina circula próxima a mesa carregando um cartaz com os dizeres “Vargem Grande Paulista”, enquanto uma mulher de cabelos azuis tenta acalmá-la. Ao lado do presidente da mesa um tipo de 1,73 m sorve um líquido escuro gaseificado e açucarado, através de um canudinho, e sussurra para o subsecretário que só consegue se manter na superfície ingerindo de 2 a 3 litros por dia. Seu interlocutor faz um gesto estranho que aparenta compreensão, lembrando-se de um primo de sua mãe que ingeria uma beberagem de cheiro forte e gosto amargo, e cada vez que o fazia desandava a cambalear e falar palavrões. O presidente da mesa pede silêncio, em vão, pois seu microfone não fora ligado, sendo mesmo movido por igual gênero de energia que dentro de instantes ativará o placar.
A mulher de cabelos azuis tenta localizar os pais da criança. Ets romeiros vindos de Kentucky se queixam da falta de organização dos pátios receptores de naves nesta capital e do preço exorbitante gasto no deslocamento até a sede da reunião. Ets da Tanzânia e da Mauritânia ensejam uma algazarra na entrada do salão de conferências. Ninguém soube explicar os motivos de tal situação. Dois seguranças Ets, que moram no Capão Redondo e estão sem dormir há três dias por conta da realização do evento partem pra cima dos delegados de Rhode Island, mal educados e arrogando-se detentores de dados cruciais e atualizados sobre a situação geral. Uma enfermeira ET, recém chegada de Burma, vai ao encontro da mulher de cabelos azuis para auxiliá-la na tarefa de acalmar a criança, que verte gotículas transparentes, através de minúsculos orifícios inseridos no que poderíamos chamar de órgão, algo revestido com uma túnica fibrosa externa medindo cerca de 24 milímetros. Constatou-se mais tarde que todos os Ets participantes do evento tinham dois desses órgãos e muitos se queixavam ora da entrada de poeira, ora do excesso de luz.
Ets loiros de Göteborg confraternizavam alegremente com outros vindos de Uppsala até se depararem com outra menina carregando uma placa, desta feita com os dizeres “Bom Jesus da Lapa”.
Um Et de aproximadamente 1,80 m confabulava com duas senhoras Ets de cabelos marrons, externando entre outras que o cérebro é capaz de produzir nicotinamida, razão pela qual elas deveriam abster-se de..., ele não conseguiu concluir o raciocínio, pois as luzes se apagaram deixando apenas um facho sobre a mesa do presidente da reunião, que olhava atentamente para o placar. Após cerca de 10 segundos o dígito exposto exprimia a cifra de 7 bilhões de Ets no planeta. Aplausos soaram pelo auditório. Nesse instante um Et guatemalteco de Esquipulas indagou se a pequena ave que voa para cima e para trás com incrível agilidade fazia parte do censo.
Houve muita agitação entre os presentes, o presidente pediu ordem e depois esclareceu que outros espécimes não estão incluídos na contagem. As duas Ets de cabelos marrons fizeram coro ao Et da Guatemala e diziam-se desoladas. Elas conheciam a ave. Mínima, ficava imóvel no ar, voava em marcha-ré, para o alto e para baixo com peculiar destreza, só se alimentava de néctar, durante o dia seu coraçãozinho batia a 120 por minuto e quando dormia mais parecia em coma, o pulso chegava a 20.
- Meu primeiro esposo era exatamente assim – disse uma delas.
- Mesmo? Mas essas aves vivem pouco...
- Eu sei. Mas ele era encantador – suspirou a viúva, com uma expressão nostálgica.
O presidente deu por encerrada a reunião profetizando que em 2026 seremos 8 bilhões e, de acordo com as mais recentes estimativas, nem todos encantadores. (Imagem: Richárd Burlet)
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