top of page

"Toni Erdmann"

Foto do escritor: Bernard GontierBernard Gontier

Atualizado: 27 de set. de 2021









Toni Erdmann, para poupar o leitor de cliques desnecessários, é um filme alemão dirigido, escrito e produzido por uma alemã (nascida em 1976) chamada Maren Ade. Lançado em 2016, ganhou prêmios sem conta no certame europeu e foi candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro 2017.


Se a sua praia for alter ego e patati patatá melhor esquecer essa leitura.


Peter Simonischek e Sandra Hüller são os astros, ele é o pai que em sinopses por aí atestam ter o personagem 68 anos (a narrativa não menciona sua idade), ela é a filha, executiva peso pesado numa toada macro e micro ao mesmo tempo.


Os nomes do meio de Maren Ade poderiam ser Inteligência & Leveza já que esses são os atributos incontestes de uma obra de cinema rara, aposto dois palitos de fósforo que o Martin Scorcese assistiu e ruminou: foi isso que tentei fazer em Alice Doesn't Live Here Anymore. Não conseguiu.


O filme abre com Peter Simonischek, que lá pelas tantas se auto intitula Toni Erdmann, e vamos chamá-lo assim para não confundir o leitor, primeiro `as voltas com um carteiro, depois com um aluno de música desistente, daí para a amostra de uma relação relaxada com a ex-mulher e o encontro com a filha.


O feito de Maren Ade, acima de tudo que se possa tentar rotular esse trabalho, está na criação de uma nuvem absolutamente fora da matrix.


Sandra mora em Bucareste. O pai aparece para uma visita surpresa. Pai e filha, o espectador já espera a lavagem de roupa suja, os sentimentos magoados em 1857, as dívidas morais, as culpas, ressentimentos, dúvidas, anseios borbulhantes, questões não resolvidas, etc.


Nada disso. A vibe da Maren Ade está mais para Seinfeld do que para Crime e Castigo do sr. Fiódor.


Toni chega em Bucareste com um presente debaixo do braço, trata-se de uma visita surpresa. Ela se adapta e acolhe. Surgem as primeiras situações que conferem o tom primevo à dupla, Sandra Hüller é uma atriz surpreendente, sua personagem demonstra aquela competência absurda do universo do mérito e não do jeitinho aliada a um ser humano com jogo de cintura para tratar do trivial sabendo separar pesos e medidas. Toni dança conforme a música sendo ele mesmo em qualquer situação, o que por si só acarreta tênue embaraço e constitui feito notável.


Surge uma pérola durante o diálogo entre a esposa de um mega executivo com vida nômade pelas capitais européias e a protagonista:


Sabe, eu prefiro viver em países com uma classe média consolidada.


Bingo.


Toni vai embora e volta com um disfarce mambembe. Seu intuito é uma brincadeira e o intuito desta brincadeira visa estabelecer a ponte, aquilo que se chama conexão. Sem firma reconhecida e ou qualquer nuance de acordo verbal ou não a filha topa. Então temos duas forças em movimento perfazendo um jogo onde as situações apresentadas surpreendem pela naturalidade e lógica em curso, distantes pela misericórdia de um Deus Amantíssimo do festival de clichês e aberrações apelativas que o cinema como um todo apresenta dia a dia.


Cenas memoráveis ditadas pela observação e pela simplicidade vão rechear a empada.


Toni passa o filme inteiro tirando e colocando uma prótese dentária. Sandra dorme em qualquer lugar, as pessoas que trabalham para ela estão acostumadas com a peculiaridade de seu funcionamento.


Pai e filha entram de penetras numa reunião familiar e ocorre o episódio envolvendo o hit de Whitney Houston "Greatest Love of All”, uma cena que te pega desprevenido e dirime quaisquer dúvidas sobre o passado comum de ambos.


Mais adiante Sandra fica entalada num vestido, o fogo criativo de Maren Ade narra um momento ordinário com um take só na aflição da executiva em se livrar de uma peça de roupa, mas isso leva a outro patamar, outro contexto, depois outro, depois outro, uma cascata de pequenas situações geniais dignas de todo aplauso e reverência.


Enfim, além da meditação, da oração e da contemplação como escudos contra a tempestade kafkiana dos vendedores de medo e chatices, temos as mídias alternativas para quem quer se libertar, tais quais o “In5d” de Gregg Prescott, o programa de rádio na web de Michelle Walling, a Rede Internacional Starseed, o Sacred Scribes, De Coração a Coração, de Stella Le Coq, o Cosmicgypsy333, além é claro, do que resta da Sétima Arte.


A gente mal sente as 2h 42m de Toni Erdmann.

56 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


  • Facebook Basic Black
  • Twitter Basic Black
bottom of page