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A Escola

  • Foto do escritor: Bernard Gontier
    Bernard Gontier
  • 24 de abr.
  • 3 min de leitura



Fazendo uma conta rápida, aqui onde estou faz quase 180 dias de temperatura cravada nos 30 graus. Nunca tinha passado por isso. A vantagem é que o mar está a 2 quilômetros de distância, e assim, imbuído de uma alegria juvenil, desfruto de dois mergulhos por dia.


Primeiramente, a escola apregoa: a calma é um super poder.


A escola desdenha de informações seqüenciais, organizadas, disciplinas idênticas para todos, metodologias baseadas em opiniões pessoais, satisfação de curiosidades vãs e todo e qualquer parâmetro válido em trabalhos meramente informativos.


Vejo o calendário e suspiro por dias mais tépidos. No estado de Montana (USA), há uma antiga pilhéria: Em Montana só existem 3 estações, julho, agosto e inverno. 
Aqui é ao contrário. Mas o sol já está se pondo mais cedo e isso por si acalenta. Não comento nada. Não me atreveria a dizer a um astro: já vai tarde. Creia, no verão o chicote estala. 




A escola ausculta.


A única regra permanente é justamente a da contínua mutação dos métodos. Aquilo que pode ajudar numa fase, pode atrapalhar em outra. Aquilo que atrapalha hoje, pode ajudar amanhã. Aquilo que ajudará outros amanhã, tem, no entanto, uma base fundamental: os outros não são objeto de crítica e condenação. São objeto de ajuda. A escola não trata de individualidades.


Nota: não raro, o aluno está na escola e sequer sabe disso, ou, se supõe estar, julga-se no privilégio de possuir um preceptor só para si quando, na realidade, está apenas sendo trabalhado em separado para mudar certas características e depois ser integrado aos companheiros de aprendizado.


Todos somos companheiros de aprendizado.




Estou justamente esperando a metamorfose das estações para tecer com mais constância longas caminhadas. Outro dia, como por milagre, o tempo nublou e o termômetro acusava 28 graus. Me abalei ladeira abaixo munido de sacola, tênis e garrafinha de água. Foi quieto e longo festejo para os sentidos.


Via de regra, a escola adverte que tudo que você acha que vai acontecer de um jeito, acontece de outro. Resultado: a escola estimula o treinar a atenção a cada instante e vigiar a qualidade da percepção. Os resultados só se tornam satisfatórios gradualmente, e põe gradualmente nisso.


O trabalho da escola sobre os escolhidos para aprenderem através dela é rigorosamente regido e planejado por forças e inteligências não compatíveis com a famigerada compreensão humana, e assim à margem dos critérios da lógica ou da pedagogia convencional.


Por isso mesmo, vá com calma. Sua origem é polidimensional e sua existência, permanente. O que está em jogo são esforços para aprimorar o entendimento sobre esses dois fatores.




Coisa de um mês atrás fui almoçar com um amigo que não via há 44 anos exatos. Ele estava montando residência na região e me contou que, durante 4 anos a partir da última vez em que nos vimos, Páscoa de 1981, viveu sem energia elétrica e sem banheiro. Abriu um vasto sorriso acrescentando que foi muito feliz nessa época. E ainda é. O sorriso de um desbravador. 




Na escola, respira-se.

Aqueles que, aparentemente, estão numa posição de especial relevância, são os que ainda não passaram no teste inicial, que implica em abandonar o hábito de olhar para o próprio umbigo.


A escola está adequada a linguagem e aos instrumentais de comunicação existentes no atual estágio da civilização.


Não existe uma característica padrão para que se entre na escola. Todavia, uma espécie de luz interior permite que os alunos se identifiquem uns aos outros silenciosamente, e que atuem somando forças na obtenção de propósitos. Esses propósitos sempre visam o coletivo.


Não é necessário sair de casa para freqüentar a escola, e, desnecessário aludir, os alunos apresentam muito mais semelhanças do que diferenças. A escola parte do princípio de que aquilo que não se percebe, não existe. 

Hoje cheguei no mar no fim da tarde, grato, o sol já mais baixo, 3 quero-queros dão rasante nas proximidades, cogito se são os mesmos desde o final da primavera passada, não compreendo esses bichos, tento agarrar uma ideia rápida que custa a ganhar contorno.


Para a escola, aquele irmãozinho que está lá atrás, segurando a chaleira, é tão importante quanto o grande irmão, lá na frente, segurando o timão. A escola apenas apresenta probabilidades de interação. Após o baile de formatura, o ex-aluno deverá sempre desconfiar de sua própria verdade, continuando - em qualquer circunstância - a tentar torná-la mais completa. 




Retorno pela praia inclinada devido a maré alta, fica a vontade de sentar um pouco em uma das cadeiras sob a generosa copa de uma Terminalia Catappa (Chapéu de Sol), ops, tiraram as cadeiras, e ruminando por segundos a ideia plasmou, simplesmente. 




Não é só aprender, mas gerar conhecimento.



(Imagem: Perception Watch)

 
 
 

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